" ainda que este livro não deva ser, de modo algum, uma daquelas auto-biografias grotescas em que o autor relata toda a sua história desde a idade das fraldas, não posso deixar de citar a data triste da minha infância em que - motivado pela circunstância de meu avô dormir de braços abertos _ pretendi crucificá-lo no colchão, chegando a cravar-lhe uma cavilha na mão esquerda.
Ao contrário do que se propalou pelas vias de coscuvilhice da vizinhança, a gangrena que o vitimou não derivou do ferro ferrugento da cavilha, mas de um panarício anterior ao atentado - o que não impediu que tanto a acção concreta como a calúnia me marcassem para o resto da vida, com a memória escaldante de uma tragédia.
tempos depois, já mais crescidito, débil mancha de buço precoce, anunciadora da virilidade futura, encontrar-me-iam a enterrar coroas de espinhos na cabeça dos cães vadios que vinham esperar as crianças à saída do liceu. Inadvertidamente, apliquei esse mau trato à cadela de um professor de latim, bicha de raça, estimada, e fui denunciado, repreendido pelo reitor, castigado em casa, proibido de brincar durante um mês com um comboio eléctrico.
a quem imputar, todavia, as reais responsabilidades de tais actos: ao inocente ou às abomináveis gravuras de um pequeno livrinho de catecismo, estendal de horror, medo e violência, pesadelo da minha meninice?!"
ainda só li três páginas mas acho que vou continuar. penso que a ironia vai reinar no livro todo.
"coca-cola killer" do maestro antónio victorino d'almeida.
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