o dia foi estranho mas maravilhoso. mesmo bom. mas as alegrias partilhadas sabem muito melhor.
atrasei a saída porque chovia e não me decidia. mas saí e fui passear por sítios maravilhosos. primeiro descobri o mercado turco aqui da zona. depois, perto do canal, bairro chic cheio de franceses jovens na moda a beber café e água com gaz. bairro chinês a cheirar a petróleo e com patos e gansos pendurados nas montras das cozinhas. bairro árabe, quase só homens na rua, muitas barbas e silêncio. bairro indiano, a rua cheirava a especiarias e manga, as montras com saris e jóias maravilhosas, bonecos de deuses dourados em todo o lado e pessoas com uma cor muito bonita e intensa. comi um pastel ultra picante que cá para mim não me fez muito bem, mas sabia divinalmente a novo. bairro africano, com lojas encantadoras forradas a capulanas, objectos de madeira, sementes não sei de quê e frutos que nunca tinha visto, sempre distraída com a rua quando olhei para a frente reparei que era a única branquela, mais ao fundo um homem e ao virar a esquina um casal. cada bairro é tão diferente, as montras, as luzes, as roupas, os cheiros, as pessoas, os corpos, as jóias, os sons, o que se come e o que se ouve. num dia dei a volta ao mundo. mais perto do destino, os passeios enchiam-se de americanos e brasileiros, todos a subir a rua e cheios de sede do calor da trovoada. quando cheguei ao topo do Sacré Coeur sentei-me e fiquei a olhar emocionada. via paris de uma ponta à outra e em todo o seu comprimento. apeteceu-me chorar. senti-me maravilhada mas sozinha. queria ter-vos ali comigo. liguei à princesa e partilhei a angustia e a paisagem. fiquei ali sentada durante imenso tempo a ver as pessoas e a paisagem e a pensar porque é que os turistas compram sempre canecas e que as pessoas quando se sentam e não chegam com os pés ao chão ficam com um ar tolo. e depois de muito tempo a observar e a ouvir as pessoas pensei. a perfeição incomoda-me, a busca da perfeição perturba-me e a pretensão da perfeição irrita-me. sei que sou imperfeita, gosto de o ser e mesmo assim por vezes detesto as minhas imperfeições. compreendi que tenho de as aceitar. de me aceitar. levantei-me e desci as escadarias para a rua. de volta ao real, vim para casa.
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